segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Não tem algo de errado com você e sim com o mundo.



  Se você acredita que precisa tomar remédios para aguentar o mundo, entenda, não tem algo de errado com você e sim com o mundo. 
  Sejamos sinceros, as coisas não estão sendo como gostaríamos, pode até ser que as coisas estejam maravilhosas em sua vida pessoal, mas ainda assim você sente um mal estar horrível que não consegue explicar. Entenda, não tem algo de errado com você e sim com o mundo.
   Essa indisposição para sair da cama de manhã, essa preguiça social de encontrar certas pessoas, ir em certos lugares e  falar de certos assuntos.  Entenda, não tem algo de errado com você e sim com o mundo.
  Essa falta de perspectiva futura, esse sentimento de que você não aguentará ou não aguenta a vida adulta. Que você não consegue se adequar ou ter uma vida normal.  Entenda, não tem algo de errado com você e sim com o mundo.
  Todos parecem se dar bem muito bem com a vida, que apesar de histórias pesadas estão vivendo comumente e que você é aquela pessoa frágil que apesar de não ter história difícil, sofre.  Entenda,  não tem algo de errado com você e sim com o mundo.
  Médicos e psicólogos dirão que você está depressivo. Sua família e amigos dirão que é só uma fase, que acontece, que basta você ter fé e tentar que tudo vai dar certo. Eles estão errados.  Entenda, não tem algo de errado com você e sim com o mundo.
  Poxa, desde crianças somos ensinados a pensar em nós e ignorar a criança que vende bala no sinal. Somos ensinados a ver notícias trágicas e agradecer a Deus por não ter sido com a gente. Somos ensinados a nos calar e disfarçar caso vejamos uma agressão ou um assalto, para não sermos as vítimas. Somos ensinados a fazer doações nos dias certos. Somos ensinados a somente reconhecer a humanidade naquele que se parece com a gente. Ensinados a acreditar que o problema da Europa, dos Estados Unidos e da Síria -mais especificamente, porém de muitos países- não são nosso problema. Ensinados a agradecer pela lição aprendida, por ser forte e por ter pessoas nos apoiando quando algo de ruim acontece com a gente. Entenda, não tem algo de errado com você e sim com o mundo, pois há uma puta hipocrisia.
  Somos ensinados a ver e dizer que o copo sempre tá meio cheio, quando na verdade está meio vazio, que puta hipocrisia. As maiorias são chamadas de minorias, que puta hipocrisia. A violência é vista como um problema individual, quando na verdade é um problema social, que puta hipocrisia. A doação como um gesto lindo, quando na verdade não fazemos mais do que nossa obrigação, que puta hipocrisia. Que os incomodados que se mudem, quando quem perturba é você, que puta hipocrisia.
  Que todos aqueles que causam mal para si mesmo são doentes, quando na verdade eles são a expressão viva de um mal estar causado pela sociedade, um mal sentido na pele em que se habita, que puta hipocrisia.
   Entenda não tem algo de errado com você e sim com o mundo. Errado não é o não querer sair de casa, chorar litros, sentir demais, ficar revoltado e etc. Errado é fingir que nada está acontecendo. Errado é pregar a normalidade enquanto vivemos o caos. Errado é acreditar que não vivemos uma 3 guerra mundial, sendo que a definição para guerra mundial é o conflito bélico de grandes proporções envolvendo um grande número de nações e países de distintos continentes. Em tempos de globalização estamos todos envolvidos, estamos todos sendo atingidos, estamos todos sendo coniventes com essa situação. Que puta hipocrisia. 
  Parem de achar e acreditar que o problema está no sujeito, quando tá na sua cara que o problema é com o modo que o mundo está sendo. Precisamos parar de remediar pessoas desnecessariamente, situações e começar a profilaxia!  E entenda de uma vez por todas que não tem nada de errado com você e sim com o mundo. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Não é uma história de amor!



  Ela não era completamente estranha para mim. Estranho e quase que destino eu conhecer a novidade. 
  Essa menina era ar fresco, promessa de vida, projeto de vida, um ânimo para os meus dias que andavam cansados e já cheios de desesperança.        Ela ainda não tinha a mesma vida que eu. Cada vez que ela se deslumbrava com algo ou mesmo tinha tanta fé, ela me dava um novo fôlego para continuar vivendo. Ela me lembrava algo da minha adolescência, com um misto de tudo aquilo que eu aspirava do futuro. 
   Eu fiz de tudo para que ela me notasse, acreditando que não surtia efeito algum, ela me viu e eu surpreendi. Essa menina merecia o céu, o chão e tudo o mais que eu poderia dar, ela era tesouro puro em meio à moedas baratas. 
   Em pouco tempo eu já sabia que a amava, ela era tudo que eu imaginava e muito mais. Porém não era das mais espertas, acho que era só a idade, nada que eu não pudesse tolerar. 
   Ela era entrega, sempre ao meu lado, sempre preocupada comigo, sempre presente, sempre me propiciando coisas novas. Descobri carinhos, atenção, dedicação, admiração e um cuidado que nunca tive. Eu suspeitava que tudo aquilo não era real, o que tinha de tão especial em mim? O que ela queria de mim? O que ela esperava de mim?
   Por vezes eu me sentia ameaçado por outros, eu desconfiava dos sentimentos e das intenções dela. Eu sabia que ela não tinha passado por coisas boas, às vezes ela só tava querendo uma comodidade. Eu decidi que não seria isso, eu não deixaria que ela tomasse espaço em minha vida, que eu não  me doaria à ela.
   Ela cozinhava, me ajudava com os serviços da casa, me ajudava com meus estudos, me fazia companhia nos meus filmes, aceitava minhas recomendações e independente de seus planos, eu era sua prioridade. Mas eu não cozinharia pra ela, ela não dirigiria meu carro, e  eu não seria seu status. Eu não seria seu prêmio de consolação e muito menos o prêmio de vitória. Eu não queria que ela esperasse coisa alguma de mim, eu não queria futuro, não queria planos, eu não queria que ela achasse que me faria de trouxa para acompanhá-la ao altar em troca de uma vida boa. Não, eu não seria enganado. Ela era esperta, seu jeito manso, sorridente, falador e entregador era na verdade sua encenação para o fim que era eu. 
    Eu já fui enganado outras vezes, dessa vez não, eu não tinha conquistado tanto na vida para alguém chegar e ir me levando e levando tudo aos poucos. Eu me manteria forte, ela podia fazer o que quiser que eu não retribuiria, não correria tal risco. Eu tenho o direito de fazer o que eu quiser, quando quiser, com quem eu quiser, ela é só uma parte da minha vida. Se quiser estar ao meu lado tem que ser assim e ponto. Me aceitar do jeito que eu for, como for e quando for, eu sou cara difícil, complicado, ela tem que saber disso. E saiba que  só de eu aceitar seu o amor já estou fazendo muito, aliás o que ela faz é pouco.
  Veja bem, nem tem corpo de mulher, sua comida poderia ser melhor, suas roupas poderiam ser melhores, falta tanto e ela se acha tão esperta, tão completa, sua vida perfeita que só serve para me mostrar o quão imperfeito eu sou. Mas deixe, se a vida é fácil pra ela e não a ensina, eu ensino.
   Ela não desistia, ela continuava a mesma, às vezes chorava e me punia tentando ser fria. Bastava, eu dizer que ela tinha que me entender e pedir um "desculpa" e ela perdoava. Eu via ela se afastando, mas nunca o bastante para ir sem voltar. Ela sabe que não existe príncipes encantados e que eu sou o melhor que ela pode conseguir, porque ela nem é tão boa assim.
   Ela chorava, ligava, tentava conversar e corrigir coisas que só existiam na cabeça dela, eu assistia a tudo mudo. Já que ela queria se afastar ... uma vez ou outra eu tentei trazê-la de volta, sempre funcionava. Ela era incapaz de viver uma vida sem mim, nunca ninguém tinha me amado do jeito que ela me amou.
     Mas ela cansou, as ligações cessaram e com uma última mensagem não respondida ela se despediu. Essa menina é só uma situação mal resolvida.

OBS.: ESSA NÃO É A HISTÓRIA DE UM HOMEM QUE NÃO SOUBE AMAR, OU UMA MULHER QUE NÃO SOUBE COMPREENDER UM HOMEM. ESSA É UMA HISTÓRIA DE UM RELACIONAMENTO ABUSIVO. PAREM DE RELATIVIZAR ABUSO.

Você tá em um Relacionamento Abusivo quando:

  •   Seu parceiro te humilha e faz piada a seu respeito quando vocês estão entre amigos;
  •  Ele está frequentemente discordando das suas opiniões e desconsidera suas ideias, sugestões e necessidades;
  •  Ele tem a habilidade de fazer com que você se sinta mal a respeito de si mesma;
  •  Quando você reclama, ele diz que você é “muito sensível”;
  •  Ele tenta te controlar e te trata como uma criança;
  • Ele quer controlar a maneira como você se comporta;
  • Você sente que precisa pedir permissão para sair sozinha;
  • Ele tenta e muitas vezes consegue, diminuir seus sonhos, suas conquistas e esperanças;
  • Ele faz com que você se sinta sempre errada;
  • Ele adora apontar suas falhas e defeitos;
  • Ele age com intolerância e desrespeito. É do tipo que não consegue se desculpar pelos próprios erros e coloca sempre a culpa nos outros;
  • Ele acaba fazendo o que quer, independente da sua opinião e de seu consentimento;
  •  Na maior parte do tempo, ele age com distanciamento emocional e parece ser incapaz de demonstrar sensibilidade;
  •  Ele não demonstra empatia e compaixão;
  •  Ele nega que age de maneira abusiva quando é confrontado;
  • Diz que você não é nada sem ele ou que ele não é nada sem você;
  • Tratar você como uma serva, mesmo dizendo que você faz melhor;
  • Ele te impor um padrão de beleza é um relacionamento abusivo;
  • Ele te colocar intelectualmente abaixo dele é abusivo.
MOÇA VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHA, VOCÊ NÃO É O QUE ELE DIZ, PENSA OU FEZ DE VOCÊ. VOCÊ É LUTA!








domingo, 11 de dezembro de 2016

Fast Society


 Nós somos a fast society, ou seja, tudo que fazemos é rápido e tudo que sentimos é rápido, não se adeque à isso e sofrerá.
  A fast society é caracterizada por rotinas de trabalho de 8h, 5x na semana, com direito à horas extras e ajustes de acordo com a necessidade do patrão e do empregado, se precisa ganhar mais, alguém trabalha mais, pode ser você, ou pode ser aquele "free" que de livre não tem coisa alguma. 
   A fast society tem das suas 24h, 8h destinadas ao trabalho, 8h para o sono, 8h para outras atividades.      A fast society é hipócrita, não se dorme 8h e muito menos as 8h destinadas para outras atividades são raramente destinadas para outras atividades -se não as que envolvam o trabalho-.
    A fast society te coloca na escola o mais rápido possível, pois enquanto você está lá, seus pais trabalhadores não se preocupam com você. Você deveria estar aprendendo e se apropriando de todos os conteúdos criados pela humanidade, para não ter que inventar a roda outra vez. Mas a fast society te ensina que o ensino é para você ter um futuro "melhor"  e o futuro melhor é ter um emprego "melhor". 
   A fast society faz com que as 8h destinadas para outras atividades sejam gastas com o transporte para o trabalho, com as refeições, com as confraternizações da empresa, com os amigos do trabalho, com aquela especialização para "aprimorar os seus conhecimentos". O que é mentira, ela só toma cada vez mais o seu tempo e sua atenção para o trabalho.
  A fast society atrapalha as suas 8h de sono, as luzes, os barulhos da cidade, o excesso de notificações das redes "sociais", ou seja, toda a vida de quem não está dormindo, está atrapalhando o seu sono. No dia seguinte, a fast society te dá um café expresso - aquele que é feito bem rápido- uma fast food, para que você talvez possa ter um pouco mais de descanso durante o seu dia.
   A fast society não entende que afeto só é construído por emoções e memórias, ou seja, ele demanda tempo e muitas outras funções psíquicas das pessoas. A fast society cria a fast emoção, torna você um sujeito que vive de emoções rápidas, que não conseguem ser memorizadas e assim, você se torna um sujeito sem afetos. 
  Então, a fast society te facilita as coisas. É bem simples, você não mais precisa entre o hall de pessoas que conhece, achar alguém que seja "compatível" com você, ou com o que você procura. A fast society faz isso para você, por meio de aplicativos de relacionamento. Então, basta um gps ligado, um cadastro atualizado e ela te mostra todas as opções, tudo o que você precisa saber da pessoa está ali, é fast e é emocionante, a cada mensagem trocada o tanto de emoções que essa pessoa pode te provocar. 
  A fast society cria maneiras de te entreter e te cansar para que você possa dormir melhor apesar de todo o barulho e todas as luzes. A fast society te propõe um lugar escuro, com música bem alta, luzes interessantes e muita gente que gosta e tem as mesmas intenções que você, tudo isso em um único lugar. Você chama de entretenimento, mas que lugar é esse que de tão alto é capaz de abafar todo o seu cansaço?  
  A fast society traz o cinema para sua casa, o exercício físico perto de você, o remédio para dormir, o remédio para acordar e te mostra que por mais que você não tenha tempo ou saco para construir um relacionamento - que aliás são longos e cansativos-, há sempre alguém interessado por você, basta se manter conectado. Você não precisa pensar, se preocupar, a fast society tem todas as soluções para você, aliás, ela já seleciona todo o conteúdo que chega até você, algo que talvez possa te interessar. 
  A fast society é sua melhor amiga e sua pior inimiga, ela facilita tudo para você, aniquilando tudo aquilo que pode fazer você sair do aconchego para pensar contra ela. Ela é a contradição pura, cria mais maneiras de sentir, de "melhorar" a vida dos seres humanos, causando mais sofrimento e os impedindo de sentir. A fast society diz que quem não se adequa precisa de intervenções, medicações, procura dentro do sujeito um sofrimento que é causado por fora. 
Obs.: Se a sociedade somos nós, porque não mudamos?
Brenda Elisa.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Não foi de todo o ruim

  Te mandei uma mensagem com uma puta insegurança, mas com uma leve esperança de saber se estava errada ou certa depois de tantos anos. Acontece que você não foi o primeiro e o  último cara que eu disse "Eu te amo", mas isso não impediu que atrapalhasse o meu amor e o amor que destino aos outros. E de fato pensei por muito tempo que eu não tinha te amado, porque eu não te conhecia de verdade. Para mim você era um, para os amigos outro e para a família, um outro mais. Mas não seria toda essa confusão uma questão de percepção?
  Sim, foi, era e já não é mais. Sua resposta veio tranquila e aberta, como eu não esperava, crescemos. Enquanto adolescentes nossos medos -e ausência dele-, nos colocava em posições extremas, não nos deixando desarmar e mostrar cruamente as tempestades e inseguranças que nos balançam e guiam para a vida adulta.
    Depois de adultos pudemos ser verdadeiros, honestos e ter a conversa mais madura que já ouvi falar em toda a minha curta vida. Bebemos um vinho e conversamos horas a fio à fim de nos desnudarmos um ao outro, uma nova eu, um novo você: velhos conhecidos, desconhecidos.
    Sem medos, sem sentimentos confusos, apenas honestidade para entendermos o que se passava em nossas cabeças naquela época e o quão de nossas confusões nos tornaram quem somos hoje. Admitimos nossos erros, nos desculpamos, não nos julgamos e colocamos em perspectiva em cada passo nesses anos todos. E decidimos que apesar de muito confusos e por vezes insatisfeitos com nossa vida adulta, tomamos em nossa juventude uma escolha sábia: mantermos fiéis ao que acreditávamos e ao que esperávamos da vida. Quem sabe um dia não recuperamos isso?
   Então, aos que possuem ex amores mal resolvidos, ou estão em seu ápice de fazer escolhas erradas, eis o meu conselho: errem, mas errem muito, não é isso que determina a vida de vocês, mas é simplesmente os sentimentos vividos e dores acumulados que lhes ensinarão onde devem depositar seu amor e sua vida. Sejam maduros, resolvam as coisas que precisam resolver, não há mal algum em contatar aquela pessoa que você não vê mais, mas que ainda ressoa em sua postura nos dias de hoje, o máximo que pode te acontecer de ruim é perceber o quão a sua vida continuou apesar de tudo. Seja grato, não há sentimento melhor do que reconhecer as coisas boas e ruins que lhe fizeram, as lições aprendidas.                             Quem você é, é a soma de todas as suas escolhas. E o melhor, você ainda pode escolher. Uma lembrança ou um passado revivido nos permite encerrar metaforicamente ou literalmente algo que pulsa dentro de nós. Você, (in)felizmente é aquilo que ainda ressoa e pulsa dentro de você, até quando vai ser assim? Coloque seu fim, coloque sua voz, quem sabe isso não te permita um novo começo? 
        De qualquer jeito, fico grata pela vida e pelo vinho. 
P.S.: Certa ou errada já não importa mais, o que importa é que seu desenho ainda tá guardado aqui. 
Brenda Elisa.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Carta aberta ao amigo machista

Ei amigo,
  Quero conversar com você. Me desculpa a ausência, mas a presença tá meio difícil de manter. Tô precisando de coragem.
  Caro amigo, sei que tenho me tornado repetitiva e às vezes cansativa, pois falo sempre de luta. Quero que entenda que é porque tenho me tornado um campo de batalha, um corpo onde a luta vive. Tenho lutado por tantas coisas e contra tantas outras que se citar aqui deixa de ser carta e passa a ser livro. 
  Ei, quero te dizer o porque tem sido tão difícil me manter coesa, dizendo que te quero por perto, mas me afastando. Veja bem, eu gosto de você, você foi abrigo nos momentos difíceis, compartilhou comigo voz e ouvidos, e espero que esteja sempre comigo, mas não do jeito que tem sido. Juro que não é por maldade, mas quero que fique só se tiver vontade e quando digo vontade me refiro de aderir à mudança que ocorre em mim e que eu realmente quero que ocorra em você.
   Amigo, você mesmo me disse que todo homem é machista, então preciso te dizer: você é machista!  E isso me fere, porque não quero te limitar ou ficar te corrigindo o tempo todo. Não sei se você é capaz de ferir alguém com intencionalidade, aliás, duvido muito. Mas suas piadas, seu jeito de falar -em português ou inglês- e se posicionar à respeito das mulheres machuca e machuca muito. Você nunca me machucou diretamente, afinal você falava isso das outras, eu era exceção lembra?
  Pois bem, eu não sou exceção, eu sou como elas e elas possuem amigos como você. Não me jogue contra elas -enquanto tenta ser meu amigo- ou me destaque desmerecendo-as -tentando melhorar meus problemas de auto estima-, pois há outro fazendo isso comigo. Eu sei que você vê seus atos como inofensivo, mas por trás de toda piada ou palavra machista está escondido um pensamento que põe as mulheres em desigualdade de você.
  Não sei muito sobre os seus relacionamentos, mas quando você dá um apelido para o seu carro que destaque o uso dele em relação as mulheres que carrega, você está sendo machista. Quando você não consegue levar a sério aquela menina do Tinder, só pelo fato dela estar nesse aplicativo você está sendo machista. Quando você chama outros caras de pussy, você está sendo machista. Quando você diz bitch para alguma menina que não gosta, você está sendo machista. Quando você me conta tudo sobre ela de modo a me "mostrar" o quão eu sou "melhor" ou não deveria estar passando por essa situação, você está sendo machista, está me fazendo vê-la como inimiga, está estimulando a competição entre as mulheres, para que não unamos e isso é machismo. Quando você salienta características físicas das mulheres em detrimento de seus conhecimentos, você está objetificando mulheres. Mas nós não somos objetos, nós pensamos, nós temos voz, nós não queremos apenas caras que não fazem mal ao físico, quremos que não façam mal à nossa união e amor-próprio.
  Eu realmente queria poder dizer tudo isso para você pessoalmente, mas eu não sei como. Você diria que era brincadeira, que estou sendo extremista e me calaria, ou melhor eu me calaria sobre o seu conhecimento e poder masculino de ver as coisas, eu estaria sendo vítima do machismo.
  Eu realmente quero que você não se afaste e se faça ainda mais presente e me presenteie se desconstruindo. Eu sei, é difícil, provavelmente passaremos o resto de nossas vidas fazendo isso, mas eu aceito e você?

Brenda Elisa.  
  

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Tentando ser forte e resistir

  Perguntam-me como ele era: “ Olha! Era um cara demais, muito sábio a principio.” Mas aos poucos fui percebendo que ele não se dava bem sendo assim. 
  Não quero dizer que ele era melhor sendo um ignorante, apenas que, ele era doente por dentro. Não havia sinal de sentimentos, eu claro tentei achar algo, desvendar os seus segredos e acabei lhe entregando um amor digno de acabar, pois o coração dele era sombrio demais para me amar. 
  Não conseguia odiá-lo a ponto de partir, ou para deixar de depositar todo meu amor, ele não podia me odiar o suficiente para me amar. 
  Senti-me deprimida e culpada, ele nem ao menos se desculpou, pois isso não é de seu feitio, confesso que imaginava outra história. Sempre que há fogo do amor intenso alguém se queima, mas percebi que se queimar não quer dizer que você vai morrer.
  Ficou uma dor, mas está passando... Texto após texto. Não vou me fazer de vítima por que também nunca fui uma Santa já que penso às vezes não querer mais gostar dele, assim poderia machucá-lo.
  Posso às vezes sentir falta dele -como uma criança sente de seu cobertor-, mas sabe de uma coisa? A realidade sempre muda.

Texto de Andressa Viana 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Post do Desabafo 2: "Sobre um esmagamento velado e a importância das letras"



  Eu li I love my husband pela primeira vez enclausurada numa sala sem reboco e me senti estranha. Não sabia os porquês mas senti um vento gelado nas costas. Me esforcei pra não admitir que não sabia. “Coitada”, eu pensei.   Tentei me convencer de que era ficção e de tão cruel não atravessava a barreira tênue do real. Anos dizendo aos outros que eu não gostava muito da Nélida em vez de assumir que o me faltava era coragem para lê-la novamente. Hoje narro meu próprio conto. Hoje percebo que não era a sala sem reboco que me enclausurava. 

  Dentre tantas, ele me escolheu pra ajudá-lo a superar uma desilusão. Eu deveria agradecer, é uma responsabilidade grandiosa. Eu ainda era virgem e pedi calma, não queria atropelar as coisas. Ele consentiu. Tão compreensivo... Ele não queria nada sério, disse que jamais namoraria uma mulher sem antes transar pra saber como é. Entendi. Concordei. Sem saber, ele me fazia entender e concordar com tudo. Durante nossas conversas, nas quais ele depositava palavras de carinho camufladas por soberba, ele dividia sua atenção em várias partes, iguais ou não. “Nós combinamos que não tínhamos nada sério...” Eu pedia desculpas. Elas eram tantas e de tão lindas me faziam sentir raiva. Ele me fez desgostar de pessoas incríveis que de mim não se diferiam em nada. Sinto muito. Não foi culpa de vocês. 

  Eu deixei de ser eu mesma pra ele me notar. Transamos, doeu, mas ele foi gentil e não forçou a barra. Agora ele sabe como é, podemos namorar. Nos aproximamos mais, eu me aproximei dos amigos dele. Era quase tudo o que eu queria. Ele contava tudo o que fazíamos na essência de nossa intimidade a esses amigos. Não tem problema... eram meus amigos também. Eles me olhavam com malícia entre uma nota e outra. Ele me fez acreditar que era elogio. Claro que era. Mesmo se depois esses amigos mirassem o mesmo olhar malicioso às outras, é melhor do que ser vista como uma mulher que não satisfaz. 

  Um dia ele bebeu. Na minha cabeça eu era a mais legal de todas por ser a única mulher da roda. Ele disse na frente de todos aqueles desconhecidos que toda mulher cheira mal e que eu não era diferente. Me senti péssima mas tentei esconder, não queria desapontá-lo. Não consegui. Quando os outros foram embora ele pediu desculpas. Desculpei. 

  Ele me fez acreditar que eu era atraente por ser prendada. Que eu era a pessoa mais inteligente que ele conhecia por achar que feminismo não era pra mulher de respeito. Que era sexy ser submissa. Eu me sentia amada, mesmo sabendo que não era.

Nosso relacionamento era uma montanha russa e na maior parte eu fiquei de ponta-cabeça. Terminamos, mas ele adoraria continuar meu amigo. Aceitei. Melhor que nada. Ele disse que eu era ótima quando estava com ele mas depois eu fiquei chata. Eu me desculpava, não queria parecer uma louca. Ninguém gosta de louca. A vida dele continuou igual. A minha vinha sendo até então ocultada por um véu escuro e abafado e eu continuava sem conseguir ler Nélida. 

  As minhas experiências seguintes não foram diferentes. Pelo menos eu tinha um exemplo do que me fazia mal. Mas me fazia mal? Não, não sei. Melhor esquecer o que disse. Desde um descontruído que acreditava em poliamor mas que não amava nada além do próprio ego a um amante da natureza que se achava bom o suficiente pra resultar numa paixão avassaladora vinda de mim e todas. 

  Foi só depois de eu aceitar os períodos construídos não só por Nélida, mas por Clarice, por Lygia, Hilda, Cecília que descobri em mim a intrínseca coragem em tirar o véu. Essa coragem já residia em mim mesmo quando o resultado das leituras não passava de um vento gelado nas costas. 

  “A literatura estragou as tuas melhores horas de amor”. Era como se Drummond tivesse ocultado meu nome da posição de vocativo antes deste verso. Com todo respeito, Carlos, mas a verdade é que a literatura me desprendeu daquilo que eu achei que significasse o amor. Amor, que depois de tanto tempo depositei em mim mesma. Hoje, a narradora que vos fala não precisa fingir ser quem não é pra fazer transbordar alguém. Reciprocidade. Essa é a palavra tatuada do lado de dentro da minha pele, onde o sangue corre e afoga as células sombrias de um passado até então escondido. Ela não precisa se dividir ao meio para ser a metade de alguém. Sendo inteira, vem um outro inteiro igualmente amável que a ela simplesmente se soma, se sente, se vive. E não se esmaga. 

Ass.: Anônima.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Post do desabafo 1: "Sobre deixar alguém de vez"


Você jamais acreditou que eu iria, mas hoje pela primeira vez, eu tive coragem de dizer ao mundo que não quero mais ser sua. E gritei tão alto, que te assustei.
Você jamais acreditou que eu iria, mas eu fui.
Você jamais acreditou que eu iria, eu te vi ali parado, me olhando, sua reação foi fugir e seus olhos estavam assustados. Mas eu fui.
Você jamais acreditou que eu iria, mas eu fui e dessa vez não fiquei em casa, dessa vez não chorei.
Você jamais acreditou que eu iria, ou que cumpriria o que eu falava à meses. Mas eu fui.
E fui de encontro ao meu verdadeiro amor: eu mesma.
Eu fui e não é igual a tantas vezes que você me mandou embora e eu voltei. 
Eu fui e se prepare rapaz. 
Eu fui viver e deixar de sofrer por você.
Você jamais acreditou que eu iria, mas eu fui.

Texto de Mariah Mendes.


Post do desabafo

"Deixa, deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar ..."

O post do desabafo vem justamente com essa intenção, um espaço em que as pessoas podem desabafar anonimamente ou não em forma de escrita. Seus pensamentos, sentimentos, experiências em forma de texto. E aí o que acha? Me manda o seu desabafo. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Moça, grite!


  As pernas bambeiam, o coração dispara, as mãos suam e tremem, suas pupilas estão dilatadas. Poderiam ser estas as reações de quando você olha para alguém que você ama, mas são essas também as reações que você tem quando olha para alguém que você teme. 
  O que ocorre no seu corpo perante uma situação de risco é basicamente isso: o cérebro entende que o que você viu ou sentiu é um estímulo de estresse, devido à situações passadas (podem ser memórias que sejam relativas à situações de estresse parecidas, ou podem ser memórias que entendem aquilo como o oposto daquilo que foi vivido como bom). Ele libera estímulos químicos que aumentam o fluxo sanguíneo, que aumenta os batimentos cardíacos, faz as pupilas dilatarem, o corpo aquecer ao ponto de transpirar, os músculos aquecerem e estarem prontos para qualquer reação de emergência, por isso eles tremem. O aumento da frequência cardíaca leva aos pulmões trabalharem mais rápido para manterem o corpo inteiro oxigenado, por isso você respira mais rápido. O cérebro mais oxigenado toma decisões mais rápidas, quase que automáticas, por isso qualquer estímulo visual, barulho ou toque é o suficiente para uma resposta imediata. 
  Então, perante uma ameaça de um homem é exatamente assim que as mulheres respondem fisicamente.  Se o não dela não foi alto suficiente ou claro o suficiente, o corpo dela grita por ela. Se ela não teve coragem de dizer não, por ser coagida, o corpo dela também diz não com todos essas respostas, que são no mínimo desconfortantes e tentam impedir a ação do homem - como por exemplo, a falta ou mínimo de lubrificação da mulher-, na busca desesperada de impedir que ocorra.
   Pois bem, homem ou mulher que acha que abuso sexual é culpa da vítima ou é relativo: qual parte do não, você não entendeu? 
  O medo também paralisa, mas paralisa pelo choque e por coação, e esse é o medo que devemos temer como um todo. Esse é a resposta mais gritante de todas para demonstrar que o corpo ou o cérebro não conseguiu se defender. É dessa maneira que se silencia e se controla uma vítima. Ela se sente incapaz de falar ou agir em prol de si mesma. O que acaba causando mais situações de violência, pois a não denúncia deixa o sujeito livre para realizar o mesmo com outras e também, ele não entende que o que ele fez tem consequências e é chamado pela pessoa que sofreu de abuso. 
  Então moça, grite! A plenos pulmões para ele, para elas, para todos. Lide com a sua dor da maneira que lhe couber, mas não a reprima, não a esconda, não torne ela a sua vergonha. Moça, o seu não foi um não, não duvide de si, foi ele quem não quis ouvir.
 Brenda Elisa. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Aos ex-amores

    Peço licença para escrever aos ex-amores ou desamores que tive nessa curta vida. Usarei o termo moço para me referir à um ou à todos. A cada um em nossa história cabe reconhecer nas minhas palavras seus comportamentos, ações e palavras. 
   Moço, finalmente entendi que sua forma redentora  de partir dizendo que era o melhor para mim, ou mesmo não dizendo coisa alguma, não era para mim, era pra você. Mas sorte a minha que você se foi.
   Confesso que doeu, algumas vezes muito, outras pouco e outras matada com alguns xingamentos e caipirinha de cachaça (você sabe que é a minha preferida). 
    Incomodou, aquele sentimento de ser rejeitada e interrompida perdurou algum tempo, um tempo que eu poderia ter aproveitado melhor. Mas eu estava errada, eu não fui rejeitada, na verdade você rejeitou o que eu representava para você, e o que você escolhe pensar e ver de mim não é necessariamente o que eu sou. Aliás, você se permitiu me conhecer? 
  Sobre ser interrompida era porque eu achava que ainda havia tanto para ser vivido, sentido e experienciado, mas eu me enganei, você não viveria aquelas coisas por falta de interesse em compartilhar. 
    Eu posso ter dito eu te amo, ou posso ter te amado da minha maneira. Lembra da maneira como eu te ouvi, do carinho que tive com você, como eu me importava se você estava bem, se tinha chegado bem em casa e dei o meu primeiro bom dia e o último boa noite até o fim. Todas as risadas que eu dei. As coisas que compartilhei como quem entregava o seu maior segredo ou tesouro. A verdade é que eu era inteira, você era momento. 
    Moço, eu deixei você ocupar os espaços que queria, pois pra mim afeto é construído com o tempo, com a convivência, com a troca e com a permissão. Se pareceu que eu lhe pedi reciprocidade me desculpe, eu me enganei em achar que você era inteiro ou disposto. 
    Eu deixei um pouco de mim e levei um pouco de você comigo, afinal, tivemos coisas em comum, que eu não deixei de gostar por causa de você. Aliás para mim o que importou sempre foram os pontos de concordância, nunca exigi que você fosse como eu, que se encaixasse em minha vida. Eu pedi para você deixar eu participar de sua vida e deixei a porta aberta para participar da minha, tendo sempre o cuidado com o meu, o seu e os nossos sentimentos um para o outro. 
   Mas sorte a minha que você se foi, você não estava querendo ficar e não gosto de gente morna. Você dizia que eu era séria demais, boa demais, me entregando demais ou gostando demais. Eu que era mais ou você que era menos? Às vezes você que não estava interessado em ser, ou não se permitindo sentir as nossas vivências com a intensidade que eu vivi.
    Obrigada pela honestidade com palavras ou silêncios. A verdade é que eu sou amor da cabeça aos pés e você era medo, era receio, desinteresse em aceitar o amor que eu estava disposta a dar, a compartilhar com você. Fique tranquilo, eu notei que com seu jeito desajeitado e atrapalhado tentou. Mas sorte a minha que você se foi.
    Eu não insisti, você é livre e eu também sou. Amor não é prisão. Amor não é lição a ser ensinada. E se você ama a solidão ou pelo menos faz questão de ser um e não par, sorte a minha que você se foi e eu não tive que te expulsar. 

P.S.: Obrigada pelos momentos e pelas lições aprendidas. Das poucas coisas que eu sei é que eu quero amor e quero amar, não há espaço para quem não queira ficar.  

Brenda Elisa.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Um pedido de desculpa de mulher para mulher

  Moça tenho que te contar uma coisa que descobri recentemente: você é igual a mim e eu não sou diferente de você. Parece óbvio não? Talvez, mas no nosso dia a dia, na maneira como nos tratamos, nos referimos, comentamos, olhamos uma para outra isso não foi visível.
    Eu não te via como par, como duas iguais, mas como opostos dentro de um mesmo grupo, como inimigas dentro de um contexto. 
   Moça, veja, é de coração aberto que peço desculpas. A culpa é minha, foi escolha minha, mas eu não sabia o que eu sei agora. Tem sido uma luta dentro de mim e acredito que dentro de você também. Eu lutei contra mim mesma, eu lutei contra você, eu lutei à favor deles, eu lutei a favor da lógica vigente.
   Moça me desculpa por ter sido um fantoche, mas as mãos que me manipulavam eram tão confortáveis e pareciam tão certas de si em seu discurso que eu acreditei que estavam certos, que eu estava certa e o pior, eu não via que eu era um fantoche, eu achava que eu fazia parte do corpo. 
   Foi difícil, mas eu consegui - aliás, ainda estou conseguindo- é difícil você ver que aquilo que parece fazer parte de você não é seu e não deveria ser, eu espero que você esteja nesse processo também. 
   Então moça, me desculpa por ter me achado tão certa e você tão errada. Me desculpa por ter julgado sua roupa. Me desculpa por ter julgado seu comportamento. Me desculpa por ter julgado seu relacionamento. Me desculpa por te fazer inimiga e não irmã. Me desculpa de querer te privar de certas coisas só por eu não ter coragem, não ser capaz ou achar imoral, moça, você é livre. Me desculpa por ter sido tapa -como a mão que me manipulava- e não abrigo. Novamente me desculpa.
     Sua dor é minha dor, a violência que te assombra me assombra, não precisamos de mais violência entre nós. De peito aberto e lágrimas nos olhos, eu te peço para que me veja como abrigo, que me veja como irmã, que sejamos par e não inimigas. Aceita? 

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Identidade Metamorfose

Identidade é ser quem você era
Identidade é ser quem você é,
O que você faz, não o que você diz que faz.
Ser o que há de vir a ser.

Ser tudo que foi, tudo que é e tudo que será.
É a soma de todas as coisas 
É apenas uma escolha.

Faça o quiser,
Ame quem vier,
Cuide do que der.

Abra mão do que não quer,
E não aceite o que vier,
Vire o jogue se o acaso não lhe couber.
          
 Seja apenas sua, mulher, 
 Faça o que der 
Para que todas saibam  o que é aceitar.
E amar quem se é.

Brenda Elisa.

Sobre Luto e Luta!


   Mais um dia em que dormir foi difícil, ficar acordada foi à base de café e que o almoço foi indigesto. Mais um dia de luta. Mais um dia de tristeza, indignação e medo. O inimigo mora ao lado, o inimigo mora dentro de casa, o inimigo está no grupo de amigos, no trabalho, no transporte público, na esquina assobiando. Sim, inimigo, no masculino, de HOMEM, pois independente de quão desconstruidão que o cara seja, ele nunca vai entender ou sentir na pele o que é ser Mulher e o que é Machismo. 
   Para além destes, temos que lidar com as que negam o feminismo, para as que não querem te ouvir quando você começa a falar do tema e que infelizmente não reconhecem que sua dor e sua luta ajuda a construir uma sociedade de menos dor e menos luta e que se ela está tranquila foi às custas da dor e luta de outras. Mas como  algumas só aprendem na experiência e ela não tem a experiência de andar à pé, como não usa o transporte público, fecha os olhos para os assédios, está protegida em seu relacionamento de longa data e está alienada ao machismo e patriarcado, não consegue ter um sentimento de categoria. 
        Mulheres temos que nos unir, minha dor é sua dor, a violência contra as mulheres não é apenas uma questão de classe social, é uma questão de dominação, de poder dos homens contra as mulheres, uma violência de gênero. Por trás do assobio, por trás do assédio sexual, do abuso e do estupro não está apenas uma questão sexual de que ele quer ou não sexo, se era consentido ou não, pois homens com parceiras que consentem sexo também fazem isso. Ao contrário do que a literatura brasileira nos explicou em "O Cobrador" -em que o sem sexo cobrava das mulheres o sexo que lhe era negado por causa de sua condição financeira- está por trás dessa violência uma questão de dominação, de poder dele em relação à essas mulheres. Me desculpa Professora de Literatura do Ensino Médio, repito, não é apenas uma questão de classe. Não são apenas homens de periferia que estupram e assediam, vemos todos os dias nas classes médias e altas. Não é só uma questão de Educação também, pois vivemos isso no meio acadêmico. 
          Professores Machistas, grandes nomes da literatura da Psicologia dizendo em pleno evento com auditório com mais de 100 mulheres, que Daniella Perez foi morta por que a mãe a colocou em um papel sedutor demais. E companheiros de curso abusando de companheiras de curso. Mas atentem-se para o fato de que isso não é uma exclusividade das meninas que se envolveram com o dito cujo, nem do dito cujo, há outros no curso, há outros na humanas, há outros relatos de meninas da Psicologia com outros homens, há outros universitários machistas. Dentro ou fora da Universidade não estamos salvas.
        Ser mulher é sinônimo de luto e luta, somos educadas à nos matar um pouquinho à cada dia nos contendo, nos reprimindo, nos limitando para que nada de ruim nos aconteça e o pior, quando acontece com a gente sentimos que a culpa é nossa e como ainda falta sororidade às vezes acusamos umas às outras pelos ocorridos. 
     Nossos corpos são objetificados, nos matamos um pouquinho mais nos enchendo de química para uma aparência melhor, nos restringindo de alimentos para permanecermos magras e tentando ser bem sucedidas nas 3 esferas de nossa vida: trabalho, amigos/família e relacionamentos. Quantas de nós pode dizer que é bem sucedida em se amar? Em ser prioridade em sua vida? Em não deixar quieto uma agressão seja de quem vier? 
       Luta porque ser feminista dói, problematizar a nossa cultura, analisar mínimas coisas que nos tornam tão diminutas perante os homens, tornar nosso corpo o nosso campo de batalha, o nosso gênero uma batalha, fazer as nossas vidas importarem é difícil. Me dá vontade de chorar, me dá vontade de lutar, de punhos fechados, estudando a história do feminismo e os direitos das mulheres. Tudo isso andando apressada pelas ruas, tomando cuidado com a hora e o local, olhando para os lados e para trás sempre. 


         E há quem diga que eu mudei, que eu não sou mais a mesma, que eu ando chata. Só tenho uma coisa à dizer: "Obrigada, que a mudança que ocorreu em mim, ocorra em você".

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Back to Black

 Sim, estou de volta escrevendo nesse blog. Provavelmente ninguém mais use este site ou essa maneira de se expressar em pleno 2016, mas como essa foi a maneira que eu mais gostei de ser sincera comigo mesma e com os outros em 2008, eu voltei.
            Vamos ver no que vai dar? 

                                                                                                                        Brenda Elisa.