sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Moça, grite!


  As pernas bambeiam, o coração dispara, as mãos suam e tremem, suas pupilas estão dilatadas. Poderiam ser estas as reações de quando você olha para alguém que você ama, mas são essas também as reações que você tem quando olha para alguém que você teme. 
  O que ocorre no seu corpo perante uma situação de risco é basicamente isso: o cérebro entende que o que você viu ou sentiu é um estímulo de estresse, devido à situações passadas (podem ser memórias que sejam relativas à situações de estresse parecidas, ou podem ser memórias que entendem aquilo como o oposto daquilo que foi vivido como bom). Ele libera estímulos químicos que aumentam o fluxo sanguíneo, que aumenta os batimentos cardíacos, faz as pupilas dilatarem, o corpo aquecer ao ponto de transpirar, os músculos aquecerem e estarem prontos para qualquer reação de emergência, por isso eles tremem. O aumento da frequência cardíaca leva aos pulmões trabalharem mais rápido para manterem o corpo inteiro oxigenado, por isso você respira mais rápido. O cérebro mais oxigenado toma decisões mais rápidas, quase que automáticas, por isso qualquer estímulo visual, barulho ou toque é o suficiente para uma resposta imediata. 
  Então, perante uma ameaça de um homem é exatamente assim que as mulheres respondem fisicamente.  Se o não dela não foi alto suficiente ou claro o suficiente, o corpo dela grita por ela. Se ela não teve coragem de dizer não, por ser coagida, o corpo dela também diz não com todos essas respostas, que são no mínimo desconfortantes e tentam impedir a ação do homem - como por exemplo, a falta ou mínimo de lubrificação da mulher-, na busca desesperada de impedir que ocorra.
   Pois bem, homem ou mulher que acha que abuso sexual é culpa da vítima ou é relativo: qual parte do não, você não entendeu? 
  O medo também paralisa, mas paralisa pelo choque e por coação, e esse é o medo que devemos temer como um todo. Esse é a resposta mais gritante de todas para demonstrar que o corpo ou o cérebro não conseguiu se defender. É dessa maneira que se silencia e se controla uma vítima. Ela se sente incapaz de falar ou agir em prol de si mesma. O que acaba causando mais situações de violência, pois a não denúncia deixa o sujeito livre para realizar o mesmo com outras e também, ele não entende que o que ele fez tem consequências e é chamado pela pessoa que sofreu de abuso. 
  Então moça, grite! A plenos pulmões para ele, para elas, para todos. Lide com a sua dor da maneira que lhe couber, mas não a reprima, não a esconda, não torne ela a sua vergonha. Moça, o seu não foi um não, não duvide de si, foi ele quem não quis ouvir.
 Brenda Elisa.