Eu tenho conhecido pessoas e suas
histórias. Eu tenho conhecido pequenos fragmentos que escondem um Universo. Eu
tenho aprendido com estas pessoas que sim, a vida tem várias maneiras de ser
vivida, que o mesmo acontecimento é percebido de maneiras totalmente distintas.
Tenho aprendido que ao se deparar com alguém que queira ouvir suas histórias, é
quase que impossível não chorar, tamanha a vulnerabilidade da qual somos
feitos.
É incrível como as pessoas tem
tanto a dizer sobre as suas vidas e ao mesmo tempo passam a maior parte do
tempo evitando isso. É incrível como os corpos em que habitam que carrega suas
histórias e por vezes representam o que pensam, sentem, são cheios de
cicatrizes. É incrível o quão suas histórias são contadas por elas e carregam
em seus olhos todo o tom que dão para suas vidas.
Surpreendente o tanto de tempo que
vivemos de maneira irreflexiva, sem saber o porque de certas coisas fazerem a
gente se sentir o que sente, o porque das pessoas provocarem certas reações e
afetos, o porque de sermos como somos e vivermos como vivemos. Sem saber
explicar. Não que eu tenha todas essas respostas, mas veja, isso é conhecer-se
e conhecendo-se fica muito mais fácil escolher o que quer e o que não quer
viver.
É quase que surreal que homens e
mulheres, adolescentes e crianças com a possibilidade de escuta desarmam-se e
mostram quem realmente são e como realmente se sentem. Tenho me maravilhado com
a possibilidade de conhecer detalhadamente alguém, de ouvir atentamente suas
histórias e por vezes ajudá-los a compreenderem quem são.
Para além disso, ouvindo suas
histórias tenho aprendido mais com eles do que a minha vida toda. Me disseram
que isso é sabedoria. Eu aprendi com uma moça de sardas que as vezes o que nos
acontece é provocado por nós mesmos e que perceber isso é tomar o controle de
nossas vidas em mãos e finalmente nos livrarmos daquilo que acham que somos,
para sermos quem realmente queremos. E isso me deu firmeza para eu não abrir
mão de quem eu sou.
Aprendi com uma menininha de 6 anos e
franjinha quadrada que mesmo na pior das hipóteses, no pior cenário, quando
alguém cuida de nós ganhamos potencial de vida. E isso me ensinou a me deixar
ser cuidada.
Aprendi com uma senhora de olhos azuis
que nunca é tarde para reescrevermos nossas histórias, que sempre vale a pena
tentar de novo. E ver ela tentar, ver ela descobrir-se assim, me deu forças
para não desistir.
Com uma jovem mãe de 29 anos
aprendi da maneira mais dura que os nossos piores medos podem se tornar realidade,
mesmo a gente tentando ao máximo evitá-los. Isso me fez ver que eu não tenho o
controle de tudo, que a vida segue seu próprio rumo. Eu aprendi o que era amor, quando uma senhora que estava
sofrendo muito me pediu um pouco do meu tempo para aliviar o seu companheiro de
vidas e dar ouvidos a ele e não a ela. Ela me ensinou que o amor prioriza o
outro, o bem estar do outro, pois ver o outro forte, feliz e tranquilo, nos
fortalece, nos faz feliz e nos tranquiliza.
Eu tenho aprendido que cada pessoa
é um Universo e que a cada encontro com elas eu expando um pouco mais do meu.
Que toda uma vida não será suficiente para se descobrir e aprender tudo o que
ser humano é e tudo o que pode ser. Eu aprendi que tempo não é medido em horas,
mas sim em qualidade, pois uma hora de riso bobo vale mais que duas de
angústia. Que um minuto de choro, alivia anos de sofrimento.
Eu tenho descoberto o quão as
pessoas podem ser gratas quando a troca é sincera, mas isso não me livra de
encontrar pessoas que ainda não estão prontas para tamanho desapego com o que
acham que são.
Por fim, todas essas histórias,
esses fragmentos de vida, esse Universo por inteiro que eu tenho a chance as
vezes de olhar só por alguns minutos, tem me ensinado mais sobre mim, sobre o
outro e sobre a vida, do que eu jamais pudera imaginar. A vida é muito curta
para aprendermos com os nossos erros e acertos, é preciso permitir-se conhecer
a partir da experiência do outro. Vida é tocar a vida do outro na troca.