quarta-feira, 5 de abril de 2017

"13 Reasons Why" quais são e como lidar com os temas abordados?



            Ei, vamos conversar sobre essa série (que é um livro) que tá dando o que falar? Pode ser que as coisas que eu escreva aqui sejam consideradas spoilers, mas eu vou escrever mesmo assim pois uma série dessas não pode ser assistida sem uma reflexão séria e crítica sobre vários pontos. Sim, o intuito da série é que você saia da sua zona de conforto e reflita sobre isso, mas pra deixar tudo certinho e não romantizarmos vários assuntos como o suicídio, proponho que leia esse post até o fim. 
            A série estreou dia 31 de março e já ganhou repercussão internacional e milhares de fãs por todo o mundo. Inclusive, campanhas com hashtags tem sido divulgadas com o intuito das pessoas não serem um motivo para alguém se matar, uma estratégia boa para discutir bullying, crimes virtuais, abuso sexual, machismo, despreparo das escolas, famílias e todos nós em relação à esses tópicos e o principal o suicídio.
"13 Reasons Why" merece toda a nossa atenção por tratar de um tema tão delicado em uma perspectiva nova: a história de um suicídio contada pela própria pessoa que o cometeu. Sim caro leitor, depois de Hannah ter cometido o ato não tem como nós torcermos para sua história ser diferente, ela não vai aparecer no fim da série e ter tudo aquilo que desejou em vida. Um golpe duro para os telespectadores que estão acostumados com séries que tratam de assuntos muito parecidos, mas que mudam para comercializar novas temporadas ou mesmo banalizam e romantizam o tema da morte, como por exemplo: "Pretty Little Liars", "American Horror Story: Murder House" e "Scream Queens". Lógico que a lista não para por aí e podemos incluir inúmeros filmes com a temática da vida dos adolescentes, mas isso fica para outro post. 
Vamos lá, eu me propus à assistir a série atentamente para não deixar escapar nenhum detalhe da trama e ver se ela ia se propor a abrir a discussão para além dos motivos pessoais da jovem Hannah Baker e colocar políticas de enfrentamento. Os 13 motivos para o suicídio de Hannah você encontra abaixo, se não quiser ter spoilers pule a parte das imagens com as descrições e leia à partir do aviso grifado em amarelo.

1. Justin tirou fotos da jovem e divulgou com uma história deturpada de como foi o seu primeiro encontro. Isso foi devastador para ela, pois as fotos foram divulgadas e todos da escola passaram a julgá-la sem ao menos terem-na conhecido.
2.  Jessica Davis foi uma das primeiras amigas dela com a qual ela conseguiu se sentir segura e incluída. Mas devido um acontecimento a amizade foi interrompida e Hannah de novo foi vítima de uma mentira que voltou a taxá-la como vagabunda e fácil.
3. Alex Standall foi um dos primeiros amigos dela que também propiciou esses sentimentos de inclusão e segurança, porém ele foi o motivo pelo qual as duas amigas se separaram, como se não bastasse os rumores e nota (referente ao corpo) que o jovem lhe atribuiu deu abertura para que outros jovens também a objetificassem.
4. Tyler Down perseguiu a jovem dentro e fora dos muros da escola, registrando e divulgando fotos íntimas de Hannah Baker. O que é crime e sem mas ou mais. 

  
5. Courtney tentou ajudar Hannah na descoberta de quem seria essa pessoa que a perseguia, mas ambas se beijaram - o que foi registrado e divulgado por Tyler- insegura de sua sexualidade e não querendo assumir a mesma, Courtney negou o acontecido e espalhou boatos falsos e de conteúdo agressivo sobre a jovem para dispersar os olhares e rumores dela mesma. O que mais uma vez por conta da fetichização das relações homossexuais entre mulheres acarretou em assédio desmedido de Hannah (que aliás era hétero). 
6. Marcus Cole é mais um dos babacas machistas que assediou a jovem por conta dos boatos e reagiu agressivamente quando ela lhe disse não. 
7. Zach Dempsey foi prestativo com ela no ocorrido com Marcus, mas também foi um babaca machista quando ela lhe disse não e ele a culpou pelas coisas que ocorriam com ela. Como se não bastasse o mesmo passou a boicotar os recados de elogios que a jovem recebia em uma aula, o que era importante para ela se sentir acolhida e que alguém ligasse para ela. Após ter descoberto isso, Hannah o procurou e lhe contou tudo o que sentia, ele despreparado para lidar com a temática ignorou. 
8. Ryan Shaver apropriou-se de conteúdo íntimo e expositivo da jovem -um poema- para divulgação em sua revista. De novo Hannah Baker que tentava se adequar, achar seu espaço, se sentir segura foi exposta e humilhada por conta de sujeitos com interesses próprios. 

9. Justin -novamente- e Hannah presenciaram e sabiam do estupro de Jessica (citada acima), ambos não conseguiram evitar, enfrentar e denunciar o abusador. De novo machismo sendo responsável pelo adoecimento psíquico da jovem.
10. Sheri Kurtz bateu o carro em uma placa de "Pare" de um cruzamento. Por medo de punições não avisou autoridades e deixou o local e a Hannah no mesmo, pois ela não queria compactuar com isso. Tal erro foi responsável pela morte de um outro personagem, fato que a Hannah não conseguiu se perdoar.
11. Clay Jensen é o amor de Hannah e Hannah o amor de Clay Jensen. A história se passa no momento em que o jovem ouve as fitas de Hannah sobre os motivos pelos quais ela se matou. Ele parece ser um dos poucos que assume sua responsabilidade e negligência perante a jovem. Seu motivo é que -assim como muitos de nós- ele não conseguiu dizer para a pessoa que amava um "eu te amo" e o quão ela era importante para ele enquanto ela estava viva.
12. Bryce walker estuprou Hannah e outra jovem -o machismo mata todos os dias-. A certeza de impunidade do Bryce, o medo de Hannah perante o agressor e as marcas que tal ato deixou não apenas em seu corpo mas em sua relação com o mundo fez com que Hannah pensasse em dar fim à própria vida.
13. Mr. Porter, ah esse meus amigos, esse é a cara do fim. Esse é quem podia realmente ter ajudado Hannah. Esse é quem deveria ter ajudado Hannah. Esse é quem supostamente é o mais preparado para ajudar Hannah. Mas não, ele não estava preparado, ele não conseguiu por pura incompetência e machismo. Ele é o conselheiro da escola, cargo para ajudar (aconselhar) os jovens em todos os assuntos desde escolha profissional até questões pessoais, cargo que pelo que pesquisei lá não exige formação específica, apenas cursos de algumas horas. Aqui no Brasil esse cargo não existe oficialmente, mas se assemelha ao espaço ocupado por psicólogos escolares e assistentes sociais nas escolas. Mas me desculpem, não acredito e sei que a grande maioria das escolas não possuem esses profissionais e se possuem são poucos os com formações adequadas. Então, acredito eu que aqui e lá estamos brincando com vidas quando não nos preparamos suficientemente para lidar com os adolescentes. 

ACABARAM OS SPOILERS

Bom, após levantar todas essas razões, Hannah Baker veio a cometer o suicídio. Vamos falar sobre ele? Descobri ainda ontem que a imprensa possui um código interno que é a não divulgação de suicídios e cartas ou outras coisas - na série são fitas- que esclarecem os motivos pelos quais a pessoa chegou às vias de fato, as exceções são quando se trata de pessoas famosas/importantes e casos que são acompanhados de homicídio. Mais detalhadamente você encontra as explicações aqui: http://observatoriodaimprensa.com.br/diretorio-academico/o-suicidio-na-pauta-jornalistica/
Porém, fiquei me questionando sobre o tabu entorno do tema, porque sim: temos medo que as pessoas se matem e queremos nos ausentar da responsabilidade por tal ato. Sim, isso pode acontecer, afinal eu estou vendo um monte de gente colocando que se sente como a Hannah Baker, que é a Hannah Baker, que entende os motivos dela, que as pessoas e o mundo é uma droga e a vida parece uma rua sem saída. Mas, ao conversarmos abertamente sobre isso talvez possamos enxergar as coisas de uma outra maneira. 
Veja bem, apesar de todos esses motivos trazerem uma dor profunda ao ponto de alguém achar que não tem mais saída, de não suportar a existência ou co-existir com pessoas (personagens) como as listadas acima, eu ainda vi inúmeros motivos pelo qual Hannah Baker deveria viver, talvez se algum dos personagens acima fossem minimamente sensível ou preparado para conversar sobre isso. Mas eu estou preparada? Você está preparado? Estamos preparando nossos jovens? Existem profissionais preparados? Existem políticas de enfrentamento nos mais diversos espaços para isso? 
Eu coloco aqui uma lista de tópicos que precisamos conversar, eu aconselho que leia para que caso suspeite que alguém esteja passando por essa mesma situação, ou que você mesmo já passou por isso reflita. 
1.      Suicídio:
A pesquisa mais recente que eu tive acesso -link disponível ao final do tópico- conta que cerca de 900 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. 
-Dos 15 aos 35 anos o suicídio é a causa de morte mais frequente dessa população.
-Para cada suicídio há de 5 à 6 pessoas em média que sofrem consequências emocionais diretas.
- A cada 100 mil habitantes no Brasil, em média 4 cometem o suicídio. 
- O suicídio é mais frequente entre homens do que mulheres, porém o número entre as mulheres é mais crescente que os homens.
-   Estima-se que o número de tentativas de suicídio supere o número de suicídios em pelo menos 10 vezes.
- Existem fatores de risco do suicídio, que são: transtornos mentais, sociodemográficos, psicológicos e condições clínicas incapacitantes.
- Transtornos mentais: depressão, uso de substâncias psicoativas, transtornos de personalidade, esquizofrenia, ansiedade.
- Sociodemográficos: sexo masculino, faixa etária entre 15 e 35 anos, acima de 75 anos, estratos econômicos extremos, desempregados, aposentados, isolamento social, solteiros ou separados, migrantes e imigrantes.
- Psicológicos: perdas recentes, perdas de figuras parentais, dinâmica familiar conturbada, datas importantes, reações de aniversário, personalidade impulsiva/agressiva/instável.
- Condições clínicas incapacitantes: doenças incapacitantes, dores crônicas, lesões desfigurantes, epilepsia, trauma medular, câncer, aids.
- O SUS possui uma rede especificada e especializada no atendimento de pessoas suicidas, com os transtornos citados acima e outros, assim como atendimento dos familiares dos pacientes, chama CAPS (Centro de Atenção Psicosocial), que é inteiramente gratuito para qualquer um, vai desde atendimento clínico psicológico até a disponibilização dos fármacos necessários e indicados por médicos.
            Ou seja, o suicídio não é apenas de pessoas com transtornos mentais, ele abrange várias faixas etárias e ambos os sexos. Sim, com tratamento adequado e atento aos sinais que as pessoas podem demonstrar pode haver uma prevenção, mas para tal ocorrer é necessário que as pessoas conheçam o assunto.

2.     Depressão:
A personagem Hannah Baker apresentava todos os sinais/sintomas de depressão que passaram despercebidos por todos ao seu redor, por isso vou citá-los:
-sentir-se triste, durante a maior parte do dia, quase todos os dias;
 -perder o prazer ou o interesse em atividades rotineiras (anedonia);
 -irritabilidade (pode substituir o humor deprimido em crianças e adolescentes);
 -desesperança;
 -queda da libido;
 -perder peso ou ganhar peso (não estando em dieta);
 -dormir demais ou de menos, ou acordar muito cedo;
 -sentir-se cansado e fraco o tempo todo, sem energia;
 -sentir-se inútil, culpado, um peso para os outros;
-sentir-se ansioso;
-sentir dificuldade em concentrar-se, tomar decisões e dificuldade de memória;
- ter pensamentos frequentes de morte e suicídio.
·         Algumas dicas para o diagnóstico da depressão: pergunte sobre coisas do dia-a-dia que o indivíduo gostava de fazer, como, por exemplo, ver uma novela, brincar com o cachorro, ler o jornal, escutar música e etc, depois pergunte se ele continua fazendo e tendo prazer ao fazer tais atividades, se ele se anima com coisas positivas que estão para acontecer, se tem esperança, se a tristeza que ele está sentindo é diferente da tristeza que ele já sentiu quando viveu outras situações difíceis. Pergunte sobre o desejo de estar morto, ou de se matar. Quando, além de depressão, o sujeito se mostra desesperado, o risco de suicídio é maior.
·         Algumas dicas do que não falar se você acha que a pessoa está com depressão ou deprimida: “No lugar dele eu também estaria deprimido.”; “Esta depressão é compreensível; não precisa de ajuda.”; “Depressão só dá em quem tem fraqueza de caráter.”; “Você só está estressado...”; “Depressão é uma conseqüência natural do envelhecimento.”; “Só depende de você: força de vontade cura a depressão!”; “Antidepressivos são perigosos;”; “Psicólogo é coisa de louco”; “Vá na Igreja”; “É falta de Deus”. Quando as pessoas dizem “eu estou cansado da vida” ou “não há mais razão para eu viver”, elas geralmente são rejeitadas, ou então são obrigadas a ouvir sobre outras pessoas que estiveram em dificuldades piores. Nenhuma dessas atitudes ajuda a pessoa sob risco de suicídio.
·         Como ajudar alguém:
-O primeiro passo é achar um lugar adequado, onde uma conversa tranquila possa ser mantida com privacidade razoável.
- O próximo passo é reservar o tempo necessário. Pessoas com ideação suicida usualmente necessitam de mais tempo para deixar de se achar um fardo. É preciso também estar disponível emocionalmente para lhes dar atenção.
- A tarefa mais importante é ouvi-las efetivamente. Conseguir esse contato e ouvir é por si só o maior passo para reduzir o nível de desespero suicida. O objetivo é preencher uma lacuna criada pela desconfiança, pelo desespero e pela perda de esperança e dar esperança à pessoa de que as coisas podem ser melhor.
-Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de não-julgamento é fundamental para facilitar a comunicação. Ouça com cordialidade. Trate com respeito. Empatia com as emoções. Cuidado com o sigilo.
- Como se comunicar: Ouvir atentamente, com calma. Entender os sentimentos da pessoa (empatia). Dar mensagens não verbais de aceitação e respeito. Expressar respeito pelas opiniões e pelos valores da pessoa. Conversar honestamente e com autenticidade. Mostrar sua preocupação, seu cuidado e sua afeição. Focalizar nos sentimentos da pessoa.
- Ajude a pessoa a entender que há tratamento e ajude ela a procurar e frequentar o mesmo.
·         Etapas do tratamento da depressão psicoterápico e/ou farmacológico: Aproximadamente ⅔ das pessoas com episódio depressivo melhoram com o primeiro antidepressivo. Em geral, há demora de cerca de duas semanas para início de ação dos antidepressivos. São necessárias, no mínimo oito semanas para retorno ao humor de antes da depressão. É fundamental, após a remissão dos sintomas, a continuidade do tratamento na fase de manutenção. O tratamento completo tem duração mínima de seis meses, a partir da remissão completa dos sintomas. Quando há recorrência da depressão, quando a intensidade é grave ou em caso de idade avançada, o tratamento mínimo vai de dois anos até o resto da vida, em alguns casos. Os antidepressivos não são recomendados para o tratamento inicial da depressão leve. Deve ser tentada psicoterapia primeiramente. Nos casos de depressão moderada e grave, os antidepressivos devem ser iniciados e associados com alguma forma de psicoterapia. O maior risco associado à depressão é o aumento da mortalidade, em especial por suicídio. Nas primeiras semanas, em uma minoria dos pacientes, pode haver uma intensificação da ideação suicida, independentemente da classe de antidepressivo usada. Para lidar com o problema anterior, recomenda-se retornos próximos, avisar o paciente e familiares e garantir acessibilidade de ajuda.
**Obs.: Essas informações foram retiradas do link já disponível no tópico anterior.

3.      Bullying
A jovem Hannah Baker era sim vítima de Bullying, eu e você precisamos ter isso claro para que não deixemos escapar da próxima vez que vermos algo parecido acontecendo. Bullying traz consequências marcantes na vida psíquica e social da criança/adolescentes, podendo ser fatal tanto em caso de suicídios quanto de homicídios.
O Bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, realizadas de forma voluntária e repetitiva adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s), causando dor e angústia e realizada dentro de uma relação desigual de poder. Estas agressões podem ser:
-Físicas: tapas, beliscões e chutes.
- Verbais: apelidos de conteúdo depreciativos, xingamentos.
- Morais: intimidações, ameaças, fofocas e rumores.
- Sexuais: assédios (verbais de conteúdo sexual, passar a mão com e nas partes intimas da pessoa sem o consentimento) e abusos (qualquer atividade sexual sem consentimento é estupro).
            A personagem foi vítima de todos os citados acima e mesmo assim as pessoas não perceberam ou não taxaram como por conta de desconhecimento. Os pais não perceberam por não se atentarem aos sinais que ela demonstrou e estes são alguns: passar a ter baixo rendimento escolar, evasão escolar (faltar a aula ou arranjar motivos para faltar), sentir-se mal antes de ir para a escola, roupas ou material escolar estragados após a aula, alterações de humor, hematomas e ferimentos pós período escolar, carregar objetos de defesa pessoal para ir a aula.
Essas e outras informações encontram-se disponíveis nesse link: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/bullying.pdf 

4.      Fotografar e expor

Hannah Baker ao ser fotografada pelo colega de escola –também menor de idade- em cena íntima foi vítima de um crime, a divulgação do mesmo também é crime que no Brasil tem especificado no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente.

5.      Violência contra a Mulher
Hannah Baker foi assediada e estuprada. Precisamos falar sobre isso porque não é exclusividade da personagem, pois é uma vulnerabilidade e realidade de gênero. Aqui no Brasil os números são alarmantes, atualmente em um ano:
-12 milhões sofreram agressão verbal;
- 5 milhões sofreram ameaça de violência física;
- 3,9 milhões sofreram violência sexual;
- 1.9 milhões foram ameaçadas com algum tipo de arma e/ou faca;
- 1,4 milhões foram espancadas e/ou estranguladas;
-257 mil levaram um tiro.  
Então vamos conversar do porque isso acontece e porque não estamos conversando sobre isso? Primeiro, você sabe o que é um estupro e um assédio sexual?
  -Estupro: é a prática não consensual do sexo, imposto por meio de violência ou grave ameaça de qualquer natureza por ambos os sexos. Ele consiste em qualquer forma de prática sexual sem consentimento de uma das partes, envolvendo ou não penetração. Ainda que o estupro vitime ambos os sexos, as mulheres são as vítimas historicamente mais atingidas.
 - Assédio Sexual: pode ser definido como avanços de caráter sexual, não aceitáveis e não requeridos, favores sexuais ou contatos verbais ou físicos que criam uma atmosfera ofensiva e hostil.
Segundo, porque Hannah não denunciou? Existem diversas explicações para uma mulher não contar os episódios de violência. Eis alguns exemplos –dentro de vários citados no link abaixo- que explicam os porquês da jovem ter feito isso:
- Sente-se envergonhada e humilhada ou mesmo culpada pela violência.
-Teve más experiências no passado, quando contou sua situação.
- Sente que não tem controle sobre o que acontece na sua vida.  Crê que suas lesões e problemas não são importantes.
-Pertence a um âmbito cultural/social em que esses abusos são tolerados ou mesmo compreendidos como “naturais”
Terceiro, porque os amigos que sabiam do abuso não só dela não denunciaram? Simples, o abusador e os colegas acreditam nesses motivos:
- que algumas mulheres merecem ou pedem o abuso, ou, ainda, que gostam de ser agredidas.
-que a violência contra mulher é um problema só do casal e “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher
-que não vai adiantar procurar a delegacia de polícia.
-que as mulheres são inimigas umas das outras, não são confiáveis, são traiçoeiras. -que a mulher é culpada da violência por ser uma mulher sedutora.
  Mas, quando a violência é crime? Segundo a Cartilha dos Direitos da Mulher: http://www.unfpa.org.br/Arquivos/cartilha_direitos_mulher.pdf
1.      Se alguém, por palavras gestos ou por escrito, amedrontou você prometendo fazer um mal injusto e grave, você foi vítima de um crime de ameaça.
2.       Se alguém a obrigou a ter contato íntimo contra sua vontade, sem ter completado uma relação sexual, você foi vítima de um crime de atentado violento ao pudor.
3.       Se alguém a acusou de um crime que não cometeu, você foi vítima de uma calúnia.
4.      Se alguém destruiu, suprimiu ou ocultou, em benefício próprio ou de outrem, documento público ou particular verdadeiro prejudicando-a, você foi vítima de um crime de destruição de documentos.
5.       Se alguém disse algo contra sua honra, na presença de uma ou mais pessoas, você foi vítima de um crime de difamação.
6.       Se alguém a obrigou a ter relações sexuais contra sua vontade, você foi vítima de um crime de estupro.
7.       Se alguém a induziu ou instigou a cometer suicídio ou prontificou-se a auxiliá-la para que o fizesse, você foi vítima de um crime de indução ao suicídio.
8.       Se alguém a ofendeu, mesmo que não seja na frente deoutra pessoa, você foi vítima de um crime de injúria. Se você sofre agressão física sem deixar marcas aparentes ou foi expulsa do lar conjugal, você também foi vítima de um crime de injúria.
9.      Se alguém lhe deu socos, bofetes e pontapés ou bateu usando objetos que a machucaram ou prejudicaram sua saúde, você foi vítima de um crime de lesão corporal.
10.  Se o agressor ou agressora tinha a intenção de matá-la, o crime é de tentativa de homicídio.
11.  Se alguém matou alguém, cometeu um crime de homicídio. Nesse caso, deve-se chamar imediatamente a polícia, em hipótese alguma tocar na vítima ou modificar a posição de tudo o que estiver à sua volta. A família e os amigos da vítima devem colaborar na investigação policial.
12.  Se alguém a impediu de entrar em qualquer edifício ou estabelecimento público ou privado, tais como hotéis, escolas, lojas, restaurantes etc. em função de sua raça, origem étnica, orientação sexual ou identidade de gênero, você foi vitima de um crime de racismo.
13.  Se alguém a ofendeu com palavras, gestos ou por escrito, referiu-se à sua raça ou origem étnica de forma pejorativa ou depreciativa, você também foi vítima de um crime de racismo.
14.  Se você é homossexual e alguém a ofendeu por sua orientação sexual, você foi vítima da homofobia.

Enfim, Hannah Baker foi vítima de vários crimes e agressões que passaram invisíveis e impunes. Talvez, o que faltou para esses jovens, para os familiares e para a escola tenha sido informações necessárias para entender que há medidas interventivas que podem e devem ser tomadas. Eu apresentei os temas aqui e as medidas que podem ser tomadas, mas acredito que o principal é sermos atentos, cuidadosos e afetivos ao tratar de relações humanas, pois ninguém sabe o que o outro está passando. 
Eu espero sinceramente que você assista  a série ou se já tenha assistido veja como temos responsabilidade emocional uns pelos outros, como nossas ações afetam diretamente as pessoas, o quão somos responsáveis pela alegria e dor do outro. Eu espero que tenha outras temporadas  que mostrem medidas combativas e auxiliadoras desses e outros temas no espaço da escola, que mostre o quão uma atitude, uma medida pode salvar uma vida e várias. 
Se você estiver passando por algo assim ou já tenha passado e quer conversar ou ajuda para lidar com isso eu me disponibilizo, pode entrar em contato. E acredite, você é importante, eu fiz esse post pra você, para os seus familiares te ajudarem, para que seus amigos saibam lidar com a sua dor, para os profissionais que venham a te conhecer saibam te atender adequadamente. 
Brenda Elisa.