Pensei em inúmeras interpretações, pensei que poderia ser sobre os inúmeros mitos e teorias da origem da vida, até reflexões mais profundas. Dizer isso para uma mulher, acho que ganha uma conotação diferente. Só quem esteve em silêncio sabe.
Ao ouvir essa pequena história um pequeno pensamento me invadiu, pensei se algum dia eu me tornaria um oráculo. Entendam como oráculo aquele tipo de gente que tem uma salinha bem mística e diferente, que simplesmente abre a porta quando você decide que precisa tirar uma dúvida e responde apenas com enigmas.
Eu nunca visitei um oráculo, mas com a minha imaginação fértil, quase consigo sentir a sensação.
O mais estranho é a figura que essa mulher tem para mim. Ah, aliás caro leitor, quando penso em pessoas que simplesmente sabem coisas da vida, penso em mulheres. Mulheres sabem, mesmo quando elas não querem saber, elas sabem. A caricatura que me vem à cabeça é uma mulher de meia idade, uma mulher de acessórios extravagantes, um olhar intenso e misterioso, provavelmente com um delineado meio borrado, uma mulher definitivamente misteriosa. Uma mulher que sorri discretamente quando percebe algo que você não tem ideia do que seja. Ela não consegue te explicar como ela sabe, mas ela simplesmente sabe. E de alguma forma, em algum momento, você também sabe.
Eu imagino que essa sala, saber as coisas, receber pessoas que a procuram, seja a vida dela. Imagino que nas raras vezes em que sai desse cômodo - que eu sinto que seja uma extensão de sua casa - ela vá até uma cozinha, busque um chá, se alimente de coisas orgânicas e volte sempre para aquela sala, para simplesmente saber. Passa o dia acompanhada, porém sozinha. No máximo alguns pets co-habitam a casa com ela. Provavelmente um pet que também sabe, um pet misterioso e exigente.
A mulher que sabe, aliás, a mulher que muito sabe, para mim fica sempre a sensação que é uma mulher admirada, temida, que todos e todas gostariam de saber o que ela sabe, mas que ninguém gostaria de ter o fardo de saber. O que será que saber lhe custou?
Imagino que saber as coisas deve ser o pior dos dois mundos, isso mesmo caro leitor, o pior. Mas, por que o pior? Saber não é bom, já diziam os ditados populares: “ a ignorância é uma benção”. Saber é por si só devastador, pois o que sabemos - sim, o que sabemos - não é algo bom. Saber sobre os outros é de uma responsabilidade gigantesca, o que fazer com essa informação? O que as pessoas sentirão ou pensarão do que você sabe? Saber sobre si, é ainda pior, não podemos alegar à nenhum instante a inocência, só nos resta assumir a responsabilidade, lidar com as consequências e principalmente estar atenta ao que se sabe, pois é aí que mora o perigo, aí que se esconde a intencionalidade em cada decisão e gesto. Nos deparar com as nossas intencionalidades não é fácil.
Ao partilhar o meu desejo de ser um dia um oráculo, aliás, uma mulher oráculo, me responderam que basicamente já sou. Ainda me restam dúvidas e talvez alguns anos de vida, mas imaginar que um dia eu possa ter coisas interessantes a dizer parece ser uma meta estranha, quem me conhece sabe que no fundo já sou parcialmente essa mulher. Me aconselharam essa semana a dividir o meu conhecimento, me disseram que sei muita coisa. Me aconselharam à partilhar as coisas que me incomodam, à ensinar lições, à dividir o que sei. Pois isso, isso poderia ser curador e libertador para muita gente. Seria a cura para mim mesma?