terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Resposta ao Luiz Felipe Pondé!

ARTIGO
A mulher do século 21
Os meninos terão de se esforçar um pouco mais para conseguir uma espécime que ache que eles valem algum investimento
O que será a mulher do século 21? Refiro-me a gênero. Mais especificamente a mulher heterossexual, homossexual, bissexual e trans. Aquela que os homens procuram, mas não acham mais à mão. A mulher é capaz de vida inteligente? Ou será que ela pensa só em dar?
Minha hipótese é de que, à medida que ela ficar mais “inteligente”, mais ela se interessará por sexo. Mais ela ficará interessada em si mesma. Mesmo porque sexo com homens é muito fácil. Mais ela se perguntará, de fato, “o que eu quero pra minha vida?” – isso em vários momentos da vida.
Essa pergunta feminina tá tendo um efeito tão violento na cultura quanto o patriarcado (FAVOR INFORMAR-SE COM A OBRA “A ORIGEM DA FAMÍLIA, DA PROPRIEDADE PRIVADA E DO ESTADO” DE ENGELS). Casamentos serão opção. Filhos serão opção. O mercado de trabalho sofrerá com decisões femininas que aproximam as mulheres de carreiras corporativas e as aproximarão de trabalhos com mais sentido e menos estresse do que as atividades de casa. A opressão sobre a mulher vai acabar e, quando isso acontecer, os meninos ficarão bem perdidos em suas certezas desde os tempos de Cristo até o século 21.
Essa pergunta feminina acerca do que ela de fato quer na vida empurrará os meninos para a experimentação do próprio corpo  ou bonecas eróticas por puro desespero. A conta afetiva do sofrimento feminino com a emancipação feminina finalmente chegou. E será cara. Quem continuar a encher o saco achando que tudo é “culpada vítima” será identificado em locais públicos como responsável pelo fracasso da reprodução da espécie.

A OPRESSÃO sobre a mulher vai acabar
Eu sei que existe aquela piada sobre como é impossível satisfazer uma mulher e como elas são frígidas. Lamento dizer, mas isso nunca foi verdade. Melhor se ele vier empenhado, pode ser vestido de executivo de sucesso com terno alinhado. Ou vier vestido de médico ou bombeiro. Ou, no mínimo, de cueca e barba por fazer. Uma camisinha pra evitar as coisas indesejadas.
Sim, vai ficar difícil entender nós. Difícil também porque o machismo (aquele que entra embaixo dos lençóis) fez da sociedade seu palco. E muitos psicanalistas tontos olham e não sabem reconhecer o machismo quando ele diz “bom dia, estou aqui na sua cara!”
O machismo e o patriarcado (que não são a mesma coisa) como pacto social obrigaram a mulher a “estagnar”. Ela era obrigada a assumir vocabulários subjetivos, privilegiar (ou amaldiçoar no caso das “bruxas”) o mundo masculino. A mulher Evoluiu (sim, sou darwinista) num ambiente mais objetivo de caça, mais violento, com menos possibilidade de conversa. Daí ela, na maioria dos casos, gritar mais alto hoje em dia.
Os meninos terão de se esforçar um pouco mais para conseguir uma espécime que ache que eles valem algum investimento. Afora aquelas que simplesmente ficarão mais fortes, aderindo à moda feminista, querendo ser mais empoderada e dona de si (não tem coisa mais triste do que mulher desempoderada), incapazes de tomar alguma atitude, inseguras, que tremem diante da possibilidade de que alguém as chamem na rua, mas ainda tem os babacas de sempre que ainda não entenderam que as meninas estão mais bravas hoje em dia.
Na “ponta dos meninos”, o fato é que eles são fálicos. E não existe coisa mais chata que um cara que acha que tudo é à respeito do seu órgão genitor. A espécie se tudo der certo acabará pelas mãos de um “casal” em que ela será uma feminista e ele também, ou ela e ela, ou ele e ele, o importante é ser feminista. Deus dirá: “De fato esse negócio de amar o outro como a si mesmo, demorou, mas foi.”
Existe também a possibilidade (e muitos têm feito isso no Ocidente) de buscar opções mundo à fora. Um cara mais desconstruído de preferência que queira construir ao lado da mulher um mundo de mais igualdade, ainda não estragado pelo capitalismo e seu falo.
O homem do século 21 que quiser uma mulher terá de reaprender muita coisa, em vez de simplesmente acusá-la de ser “feminazi”. Menos falo e mais igualdade de gênero. Menos cobrança e mais cuidado. A mulher livre exige respeito, o homem livre terá que respeitar.

Brenda Elisa Rosa, feminista, estudante de psicologia, não tem títulos, mas é humilde.

domingo, 22 de janeiro de 2017

"As pessoas não mudam!"


Leia com bastante atenção cada palavra que eu disse, talvez, isso seja de grande utilidade em sua vida. 
-As pessoas não mudam. Não do jeito que você quer ou do jeito que elas querem. 
- Pô, mas se as pessoas não mudam quer dizer que temos que nos conformar com elas desse jeito?
-Não.
- Tá, então você tá dizendo que eu devo parar de insistir? 
- Não.
- Não tô entendendo, o que eu faço então? 
- Tá com paciência?
- Ah fala logo, você faz Psicologia e me diz que as pessoas não mudam?
- Então, vou te explicar, as pessoas não mudam ... - me interrompeu-
- Isso você já disse!
- Espera, você disse que tava com paciência.
- Ok, ok, pode falar.
- Então, as pessoas não mudam. Não é porque eu faço Psicologia que eu deva defender que elas mudam. Mas se eu disser isso sem me explicar podem dizer que a minha profissão é totalmente inútil. Portanto, eu vou te explicar o que é mudar.
- Verdade né? As pessoas que eu conheço que vão na terapia ou são loucos mesmo, ou querem mudar algo, seja nelas ou nos outros. 
- Pois é, tem grandes erros nessa sua fala aí, mas tudo bem, você nunca foi em um psicólogo e há até quem estuda ou já é psicólogo que repete aí.
- Nossa! - me olhou com uma cara de desprezo, como quem quisesse dizer: " Você tá se achando demais!" -
- Calma. É que assim, mudar é um verbo, ou seja em uma fala ele incita uma ação, não é uma aula de português, mas sim uma breve história sobre como a nossa própria fala tem que condizer com o que a gente faz. Você não pode dizer que vai mudar, se não fizer algo. Você também não pode dizer que fulano mudou, se ele não fez algo. Ou seja, mudar requer ação, não é algo imposto, não é algo que a pessoa não queira, ela precisa agir. 
- Nunca tinha pensado assim, mas me explica aí, se eu acho que fulano mudou por causa da siclana, eu tô dizendo que ele quis assim? 
- Não, não. Espera, nem toda mudança é consciente, mas deixa eu continuar com a explicação do português que pode ser que eu chegue aí. Mudar significa no próprio dicionário fazer ou sofrer uma modificação, como também, deslocar-se ou transferir para outro local. Essa segunda parte eu gosto mais, eu acho que o dicionário quis se referir à aquelas ocasiões em que mudamos de casa, mas eu vou usar aqui como deslocar, trocar, apresentar-se sobre outro aspecto. 
- Mano, você tá me confundindo.
- Juro que faz sentido. Pensa comigo, toda vez que a gente fala que fulano mudou, a gente quer dizer que ele tá diferente, que ele se apresenta de outra maneira, mas a verdade é que a gente sabe que fulano é fulano, ele não deixou de ser aquilo que ele era ou quem ele era, ele só mudou um ou mais aspectos. A gente dá uma certa essencialidade a ele, fala que no fundo, no fundo, ele ainda é o fulano que a gente conhece. 
- Tá entendi, mas se ele não é no fundo, no fundo quem a gente conhece, o que eu uso? 
- Aí é a parte que eu gostei de pensar quando tava brincando com os verbos. As pessoas não mudam, porque mudar significa que elas continuam as mesmas, mas só um pouquinho diferente. 
- Puts, de novo?
- É, quando a pessoa diz que ela quer "mudar", ou ela procura terapia para "mudar", ela na verdade quer dizer que ela quer revolucionar! - usei as aspas com os dedos as vezes que disse mudar-
- Aff mano, para, você tá muito com essas ideia de revolução. Cê tá me irritando com isso, já não me basta essas ideia sua de defender bandido, de problematizar tudo ... - respirei fundo, isso aí é conversa pra outro dia, pode ser que um dia lhes conte - 
- Não, calma, eu nem usei o dicionário ainda pra explicar o que significa revolucionar, nem o que eu quero dizer com isso no contexto da Psicologia. 
- Tá, tá, vai lá, mas você paga a próxima cerveja.
- Ok, eu pago, mas só porque eu acredito que de me ouvir, você vai revolucionar sua vida.- no fundo eu sei que a cerveja não tem nada a ver com isso, mas se esse era o preço pra colocar uma ideiazinha na cabeça, eu posso fazer isso.-
- Garçom! - garçom trouxe a outra cerveja e eu pude ter a atenção novamente para o que tava falando.-
- Continuando, revolucionar é um verbo de ação também, mas ele traz implicitamente o sentido de que não é algo que é feito sozinho, é algo que precisa de mais gente. No nosso caso aqui vou colocar esse mais gente o psicólogo e o sujeito. Portanto, mudar pode ser feito com auto ajuda, sozinho. Para revolucionar você precisa necessariamente de mais alguém e eu espero sinceramente que você não vá no tarot. - rimos-  Revolucionar no dicionário e para nós, é a ação conjunta de  transformar, ou seja, possuir uma nova forma, modificar profundamente algo, no nosso caso alguém. 
- Meu, cê já falou isso pra alguém? - concordei com a cabeça- Te bateram não? - rimos-
- Não, apenas não entenderam o que eu queria dizer e me disseram que eu tava pensando demais. Então, quando eu digo que quero "mudar", mas eu sei que isso vai gerar uma transformação muito grande, ou quando digo que quero deixar de ser o que ou como sou para ser algo diferente, eu estou dizendo que eu quero uma revolução "dentro" de mim, para mim, para os outros e para isso eu preciso de ajuda, eu indicaria o psicólogo. 
- Tá aí, gostei, agora sim eu entendi pra que serve essa sua Psicologia. 
- Melhor, agora você pode ver quem "mudou", ou seja mais ou menos o mesmo, e quem revolucionou. Desse jeito você vê as coisas com mais sinceridade, mais cruas. Porque as pessoas dizem que mudou, e na maioria das vezes elas estão dizendo que continuam a mesma coisa, se você acha que ela mudou, pule fora, se você ver que ela revolucionou vai, tenta, é um novo começo. Essa explicação te previne de ciladas amorosas por exemplo. - rimos-
- Vou começar a me apropriar desses termos aí.
- Fique à vontade, porém faça direito. Porque a sinceridade é que as pessoas não mudam, se mudam tanto é revolução, e alguém precisa explicar isso para elas. Somente com a revolução é que damos novas formas as coisas, isso vale para pessoas, gente em terapia, conversas de bar e política. 

Brenda Elisa.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

2017


Deu meia noite e alguém disse: "Já é 2017, feliz ano novo!". 
Desde que me lembro, nas viradas de ano eu vestia branco quase como necessidade, esperava ansiosamente pelo novo ano e fazia um pedido, um sussurro interno, rápido e silencioso para que ninguém percebesse. Começava os abraços, os sorrisos e às vezes lágrimas de alívio pelo fim de um cansativo ano. 
Tudo passava em questão de minutos, em casa uma lista de resoluções feita no ano anterior sobre as minhas próprias propostas para mim, me aguardava.  Eu realmente acreditava que cumpriria a lista de cabo a rabo, que não me frustraria, que aquele ano e que aquelas mudanças realizadas me fariam extremamente feliz. 
Ao final de cada ano eu revia minha lista, riscava o que tinha feito e adicionava na nova lista o que eu ainda não havia realizado. Confesso que a sensação era sempre a mesma, insatisfação e um desânimo total comigo mesma, mais um ano em que tinha falhado. 
 Em 2016 nem precisei pegar a lista para saber que havia falhado com a maioria das coisas que tinha planejado. Normalmente eu planejo coisas que não dependem só de mim, meu maior erro, achar que posso controlar o incontrolável.
 Mediante tal desapontamento, um sentimento de cansaço experienciado com tanta força e um certo alívio por ter suportado até o fim, eu quis olhar as coisas por um ponto de vista mais cuidadoso e carinhoso comigo mesma. Resolvi fazer uma outra lista, uma lista com as coisas não planejadas que me aconteceram. O balanço foi bem melhor que os outros que já havia feito. Com as coisas não planejadas eu havia me saído bem, algumas ficado ok  e outras eu havia simplesmente botado para fora, seja por palavras ou por realmente retirar algumas pessoas e coisas da minha vida. 
2016 definitivamente não foi o meu ano, aliás, esse negócio de achar que o ano faz a diferença é só um jeito de se ausentar da responsabilidade de mudar aquilo que te incomoda, que te faz mal. Colocar do lado de fora, algo que tem que ser mudado por dentro. Afinal, essa é a única mudança real que podemos fazer, mudar nossos velhos hábitos, jeitos, perspectivas e pensamentos, do mais é só torcer fortemente para que algo mudado dentro, mude o fora e volte pra dentro como um abraço. 
Nessa virada não teve sussurro, não me vesti de branco, não fiz lista, não fiquei ansiosa. Eu só abracei fortemente, sinceramente e desejei de coração aberto à todos um "feliz ano novo", mas pensando comigo mesma: "Que você seja feliz esse ano. Que saiba ser feliz no novo ano, ser feliz na saúde, ser feliz na doença, ser feliz no amor, ser feliz sozinho desafiando Tom Jobim, ser feliz com os outros, ser feliz consigo... Que felicidade seja sua prioridade!", pois eu sei que se você é feliz, é ela que te  faz correr atrás do resto.